13 de
Janeiro de 1.927
Ao Exmº . Sr. Gen. de
Divisão EURICO DE ANDRADE NEVES,
Cmt. Da 3ª RM, o
Major LUIZ CARLOS DE MORAES, oficial do destacamento de ações de guerra,
apresenta o relatório das operações contra os rebeldes.
Exmº
Sr. General
Tendo recebido de V.
Excia. a missão de comandar o destacamento que ia entrar em operações contra os
rebeldes de Santa Maria e São Gabriel, cumpre-me apresentar o relatório
resumindo do que de importante ocorreu no decorrer dos acontecimentos.
Comandava a defesa de
Cacequi, quando recebi de V. Excia. a honrosa incumbência de organizar o
destacamento e dirigi-lo na campanha com elementos à minha disposição. O Corpo
de Patriotas do Alegrete, sob a direção do Dr. Oswaldo Aranha, intendente
daquele município, do 6º R.C.I, o 4º Esquadrão do 1º RC BM e um Pelotão
constituído por 50 praças de serviços à remonta, dei por mim organizar na tarde
de 20 de novembro, o destacamento a mim confiado.
Do 6º R.C.I., porém
não me foi possível lançar mão de todo o efetivo pela falta de material, tal
como arreiamento, viaturas, cavalos e tantas outras cousas indispensáveis numa
operação da natureza das que entraria em curso.
Tendo deixado em
Bella Vista o resto do regimento, levei comigo um Esquadrão composto de elementos
tirados das outras sub-unidades, dotando-o da maioria das F.M. ao Regimento,
como um reserva de armas automáticas à minha disposição e que em momentos
oportunos lançaria mão por reforçar outras unidades de combate que não contavam
com aquelas poderosas armas. Justifico essa minha iniciativa com a resolução de
não perder tempo em solicitar providências, que só tardiamente poderiam ser
tomadas para remediar a falta verificada naquele Regimento. Dizem os
acontecimentos que bem inspirado andei, pois os serviços prestados pelo
Esquadrão, em apreço, foram relevantes nas operações.
Acompanhou o
Esquadrão, o Comandante do Regime, Capitão GUSTAVO ADOLPHO RAMOS DE MELLO, que
prestou bons serviços.
Montado o efetivo do
destacamento de 722 homens e desses, 522 de Patriotas, sem organização militar,
que a bravura não compensa, abalei-me à 1 hora do dia 21, de Bella Vista, rumo
da Fazenda Guabijú, visto ter tido ciência de que os rebeldes, infestavam
aquelas regiões, tendo estado na Fazenda de Ilo Bica, onde foram tiroteados por
empregados desse fazendeiro. Ao 4º Esquadrão do 1º Regimento da Brigada Militar
que estava, porém, na cidade de São Gabriel, determinei que partisse na tarde
de 20 em direção ao passo do Rocha, com o fim de guarda-lo e ali fazer junção
com o grosso do destacamento.
Procedendo a marcha,
lancei pela madrugada reconhecimentos para as direções indicadas. Atingindo
Guabijú, fui informado de que os rebeldes, na manhã de 21, estiveram nos matos
de Vacacahy, entre o passo do Rocha e do Camisão. Tendo pernoitado na noite de
20 em Santa Bárbara. Dado em Guabijú o necessário descanso para a alimentação
do pessoal e cavalhada, lancei dois elementos de descoberta, um em direção a
São Sepé sob o comando do Major Laurindo Ramos e o outro sobre Tapera pela
entrada do passo do Rocha. Tapera, sob o comando do Dr. Oswaldo Aranha, ambos
dos Patriotas do Alegrete. A ambos destacamentos adicionei um grupo de combate
do 6º R.C.I. Com o Dr. Oswaldo Aranha seguiu ainda todo o 4º Esquadrão da
Brigada Militar e um Pelotão constituído de praças do serviço de Remonta, além
dos seus patriotas. A missão dada a esses dois elementos de descoberta era
descobrir e fixar a coluna rebelde até que com o grosso eu pudesse manobrar. As
informações prévias davam os rebeldes com um efetivo de 350 homens, com 3
metralhadoras pesadas e cargueiros de munição. Informações essas confirmadas
por um sargento que viera a se apresentar por ter conseguido fugir dos rebeldes
e segundo diria, preso desde Santa Maria, por não ter querido tomar parte na
revolta.
Declarou ainda o
informante que das fileiras rebeldes estavam se dando diariamente deserções.
Marchando sempre em
ligação com as duas descobertas em Tapera fui informado pelo Dr. Oswaldo
Aranha, de que os rebeldes haviam estado em São Sepé, cujo comércio saquearam e
em seguida rumaram pela margem direita do Rio São Sepé, procurando o passo do
Bossoroca, passando pelo da Juliana com direção geral de J. Mili. Já nessa época havia se juntado à coluna
rebelde a horda de João Castelhano, famigerado caudilhete, que se formou na
região de Cambay. Esse era o vaqueano e chefe de facto, pois as suas qualidades
de ótimo vaqueano lhe davam uma ascendência pronunciada á coluna.
Sempre fustigados de
perto pelas forças de Aranha e Laurindo, rumaram em direção a Seival, que
atigiram no dia 24 de Novembro.
Na manhã desse dia
feriu-se um combate no passo do Seival, entre as forças comandadas pelo Major
Laurindo Ramos e os rebelde, havendo de parte desses 9 mortos e muitos feridos.
Nada sofrendo os nossos, que ficaram senhores do campo da acção. A vitória
fácil do primeiro encontro de Seival devia mais tarde ser causa preponderante
nos sucessos menos felizes do dia seguinte.
O entusiasmo, a falsa
concepção de potência da coluna rebelde, poderia ter dado lugar a um fracasso
de consequências funestas a causa legal, se mais audácia houvesse aos rebeldes.
Ao dar-me o Dr. Aranha, notícia do sucesso obtido pelo Major Laurindo, no dia
24, dizia-me: “A Revolução não comporta mais um objetivo militar, pois é agora
um caso policial”. O otimismo não deve ser coeficiente nas nossas cogitações
militares. Com esses antecedentes, todos formando uma ideia errônea sobre o
poder do adversário, feriu-se o segundo combate do Seival, no dia 25. Ao despedir-me
do Dr. Aranha, quando partiu na missão de descoberta, adverti-lhe que
assinalado o inimigo não se empenhasse a fundo e que avisado aproximar-me-ia
com o restante do destacamento, para o combate decisivo. Ao que se comprometeu
o Dr. Aranha, dizendo-me que confiasse nele porque não sacrificaria a nossa
gente. Se aos patriotas do Alegrete não faltava coragem e a bravura de que era
expoente o Dr. Aranha, para uma ação séria faltavam-lhes, porém, o método e a
disciplina para enfrentarem tropas regulares, como então era a rebelde,
constituída de praças e oficiais do 7º R.I e outras unidades, providas de
metralhadoras pesadas, que tudo leva a crer seriam bem manejadas.
Nessa suposição
baseava a minha advertência ao Dr. Aranha, de mão a se empenhar a fundo, sem
minha presença. Os dois efetivos do Dr. Aranha e do Major Laurindo, somados
montavam a 400 homens, constituído na maioria de patriotas de Alegrete, efetivo
esse que se contrabalançava mais ou menos com o das tropas rebeldes. Na noite
de 24, com o restante do destacamento, pernoitei cerca de uma légua de Maricá,
em direção a Seival. Pela manhã de 25, empreendi na marcha, rumo seguido pelos
dois elementos avançados. Fazia a vanguarda o Major Luiz Aranha, dos patriotas.
Às 8 horas, recebo desse uma informação dizendo que os moradores à beira da
estrada informavam que estavam ouvindo a fuzilaria desde a madrugada e que uns
potreadores do Dr. Aranha, que encontrara o caminho, julgavam que o combate
estava se ferindo para as bandas do Seival. Foram essas as únicas informações
que recebi. Em seguida a elas acelerei a marcha o mais que pude para atingir a
região indicada. Passava já das 9 horas quando cheguei, encontrando já no campo
de combate um estafeta mandado pelo Capitão Eugênio Krum da Brigada Militar,
que vinha a meu encontro para servir de vaqueano, até o local da luta. Do Dr.
Aranha e Major Laurindo nada recebi. Deixando a estrada com a força, quis
cortar em linha reta, mas um grande paredão que se prolongava paralelamente a
estrada em grande extensão obstou-me a passagem por ser impraticável.
Determinei ao meu assistente, 1º Ten. Irineu de Castro, que conduzisse o grosso
até contornar o paredão e eu com minha ordenança e o Capitão Gustavo Adolpho
Ramos de Mello, galgamos o paredão com os cavalos pela rédea e nos dirigimos ao
campo de combate, afim de ver do que se tratava. Ali chegando vi que forças se
retiravam lentamente em ordem, mas com moral muito comprometida. Dirigi-me à
primeira unidade que encontrei, o 4º Esquadrão do 1º R.C da Brigada Militar,
cujo comandante pedi explicação do ocorrido, tentando retê-lo para ulterior
deliberação ao que me declarou estar sem munição e que o Major Laurindo lhe
havia determinado a retirada, bem como, a todas as forças. Nesse momento chegado
o grosso do destacamento, determinei que o Major Luiz Aranha, com 200 homens,
fosse ocupar imediatamente o passo Seival. Para acolher os elementos de Dr.
Aranha e Laurindo que ainda não haviam se retirado. Tratei de me entender com o
Major Laurindo que confirmou a informação sobre o estado moral das tropas e a
falta de munição que esgotara no combate.
Vi que era impossível
o momento um retorno à luta, nesse interim trazido por um automóvel, apareceu o
Dr. Aranha, de quem fui ao encontro, ferido no calcanhar, tendo me recebido,
embora em sangue pela hemorragia consequente ao ferimento, aos vivas ao
exército e ao Rio Grande. Contou-me o Dr. Aranha, com voz penosa, porém com
energia que lhe é conhecida, que ocorrera no combate, salientando a acção das
forças do 6º R.C.I. e do Serviço de Remonta, que nele se achava.
O campo de Seival é
uma vasta planície, terminando para os lados de Caçapava por uma serra que
nasce quase abruptamente do plano intérmino, cortando uma grande extensão corre
o arroio Seival, tributário pela esquerda de Camaquã, as margens são cobertas
de mato em todo o prolongamento e como indica o seu nome, charcos
intransponíveis existem disseminados o campo. Ali feriu-se o combate.
Em posição adrede
escolhida, os rebeldes atraíram o Major Laurindo, que desde o início empregou
todas as suas forças, não deixando reservas para as eventualidades da acção.
Sob a acção das metralhadoras, que em posição numa cerca de pedra, avançou o
Major Laurindo a cavalo em um ataque frontal, procurando assaltar a posição
inimiga. O Dr. Aranha, chegando logo após, vai auxiliar o Major Laurindo e
empenha-se também com todas as suas forças, sendo ferido no início, embora
também ferido, o Major Laurindo, continua na acção a cavalo, procurando
restabelecer a ordem nas nossas fileiras, seriamente comprometidas, por ter
ficado fora do combate o Dr. Aranha, a quem os patriotas do Alegrete obedeciam
cegamente e depositavam a máxima confiança.
Ferido o Dr. Aranha,
200 homes ao seu mando ficaram inativos no campo, sem chefe e sem direção,
segundo me informou o Major Laurindo. Ainda assim correndo-lhe o sangue do
grave ferimento e sem forças, aquele bravo exortava a luta, mas por último não
pode mais ser ouvido, os nossos com um desprezo assombroso pela morte chegaram
até às metralhadoras rebeldes que tentaram arrebatar mas tiveram que ceder pela
falta de uma direção metódica no assalto no campo de luta, deixando 15 mortes
dos nossos, e recolheram 35 feridos, vindo alguns falecer dias depois. Dos
rebeldes cotou-se pelo número de sepulturas, cerca de 20 mortes e mais tarde
encontramos um depósito de feridos graves, com 23 sendo 2 dos nossos a quem
fizeram prisioneiros. Dos seus 21 restante, 2 morreram e 19 mandei entregar em
Caçapava para serem evacuados. Posteriormente vim saber de um Médico em Santaninha.
Embora os nosso
tivessem desistido do combate à feita a retirada, não houve do lado dos
rebeldes nenhuma demonstração de tentarem a perseguição. Feito o acolhimento
das forças que se retiravam, estacionei a menos de 3 quilômetros do local da
acção, no grupo de casas existentes na estrada de Lavras, onde foram pensados
os feridos e evacuados para essa vila.
Depois de alimentar
os praças e dar descanso a cavalhada, pela tarde vim acampar no passo do
Hilário, afim de receber munição e dar outra organização ao destacamento. O
sucesso embora incompleto alcançado pelos rebeldes o Seival, deu lugar a que
eles se reanimassem e suas fileiras fossem engrossadas por outras adesões. Ali
teria morrido a revolução se as nossas armas tivessem alcançado o êxito que era
de se esperar, ela foi a causa do prolongamento por mais tempo da campanha que
havia 5 dias iniciávamos. Refeitos de munição e dado uma organização possível
aos elementos irregulares de que era o destacamento composto em sua maioria e
incorporado o 21º Corpo Auxiliar, marchei a 28 ao encalço dos rebeldes, vindo
passar a noite no Seival. Os reconhecimentos enviados na direção dos rebeldes
informaram que eles haviam tomado o rumo do passo dos Enforcados, para onde
então orientei a nossa marcha. Dalí tomaram Camaquã abaixo em direção a Santaninha,
passando por Cerro da Mina e João Feliciano. Atravessando o Camaquã pelo passo
da Restinga, Zeca Neto com 41 companheiros incorporou-se aos rebeldes que
vínhamos perseguindo. Do passo Neves lancei à noite o 21º C.A. para frente
procurando íntimo contato com a coluna rebelde. Pela manhã seguinte, já em
Santaninha era sua retaguarda alvejadas pelos nossos tiros. Desde então não
mais se deu trégua aos fugitivos. Abatiam as reses para se alimentarem, mas não
tinham tempo de carnearem, pois eram encontradas intactas. Assim, levados
sempre de frente a 3 de Dezembro conseguimos alcança-los nas pontas do Pequery,
às 16 horas. A vanguarda então feita por patriotas do alegrete sob o comado do
bravo Major Luiz Aranha, engajou o fogo, mas os rebeldes fugindo sempre,
tentado encontrar melhor terreno, detêm-se no passo das carretas do Pequery, aí
enfrentam por momento os nossos.
Tendo garantido o
nosso flanco por elementos providos das F.M, tiradas do 1º Esq. Do 6º R.C.I,
determinei ao Capitão Carús, dos patriotas do Alegrete, que atacasse a esquadra
dos rebeldes. Vendo-se assim ameaçados de um envolvimento pelo flanco esquerdo,
retiraram-se fazendo-se forte na casa da viúva Pedrosa, utilizando-se da casa e
de sacos de lã como trincheiras. Todas as suas metralhadoras funcionaram
constantemente, mas não causaram baixas notáveis aos nossos, pois só tivemos 3
feridos levemente.
Caída a noite,
conservando a posição que conquistamos, tomamos todas as disposições para um
assalto na madrugada seguinte. Às 23 horas, porém, notamos que o inimigo havia
se retirado e, segundo informações, com alguns feridos. Ao alvorecer lancei
novamente para frente em perseguição, o aguerrido 21º C.A, do Major Octacilio
Fernandes, que no dia do combate perdeu o contacto com a gente de Netto e por
isso foi ultrapassado pelo grosso do Destacamento que, do flanco alcançou a
coluna rebelde. De Pequery em diante acirra-se a perseguição de Netto. Os seus
já não dormem e nem comem, mas fogem sempre de qualquer contato. Nesse estado
com que procurando adesões e recursos por toda a parte, rumam em direção a
Caçapava, que logo deixam em busca a Encruzilhada, para finalmente depois se
aproximarem dessa vila, deixaram-na e tomando rumo de Cachoeira. Passam Palmas,
atravessam Capané e Capanesinho, deixando Cachoeirinha, finalmente 3 léguas à
direita, investem em direção a Irapuá. Sempre seguido de perto pelos nossos
elementos avançados, são no passo grande
alcançados e travam um tiroteio de alguns momentos, fugindo novamente agora em
direção à Santaninha. Com o fim de embarga-lhes o passo de Santaninha organizo
um elemento ligeiro, ao mando do major Luiz Aranha, com a missão de procurar-se
em marcha célere na frente dos rebeldes, deixando-os entre dois fogos. Mas a
carreira vertiginosa que levavam permitiu-lhes chegar em Santaninha antes de
Luiz Aranha, que obstado pelos péssimos caminhos do atalho que tomara não pode
cumprir a missão. O 21º C.A, porém vinha-lhes sempre ficado à retaguarda não os
deixado sossegados. Levados de roldão, procuram o Camaquã, que no passo da
Restinga é atravessado no dia 10 de Dezembro. Apoiado muito de perto o 21º C.A,
que vinha na perseguição imediata atingi nesse dia o passo do arroio
Pecegueiro. O Coronel João Vargas, comandante do corpo auxiliar de Caçapava,
com quem o comandante do 21º C.A estava em ligação, conforme informou a véspera
avisou-me de que Zeca Netto, tendo atravessado para a magem sul do Camaquã,
rumou por ela acima, cumpre notar que o Major Octacilio do 21º C.A, em meu nome
para não perder tempo, pediu ao comando da guarnição de Bagé, que mandasse
guarecer o passo dos Enforcados, na suposição de que os rebeldes por ele
pudesse novamente voltar para a margem norte. Aconselhava-me também o Coronel João
Vargas, muito conhecedor da região, que pelos Enforcados eu poderia com
vantagem bandear o rio e sair na frente da coluna rebelde. Nessa esperança
deixei de seguir o 21º C.A em marcha forçada atingi às 11, os Enforcados, por
onde às 9 horas transpus o rio.
Marchei nesse mesmo
dia por Malcreado, tendo a 12, atingido a coxilha das Tunas, sobre a estrada de
Bagé. O Coronel João Vargas, que marchava à minha direita, tomou ligação comigo
dia 11, a falsa informação do Coronel João Vargas, levou-me a perda do contato
com o meu elemento avançado, o 21º C.A, pois que esse havia travessado o rio no
rastro de Zeca Netto, que em vez de subir como informara Vargas, baixou pela
margem sul de Camaquã. Informado pelos meus reconhecimentos da direção dos
rebeldes, abalei-me na madrugada de 13, da coxilha das Tunas e vim pernoitar
nas costas de Velhaco, por onde devia passar. Em marcha sempre forçada
procurava alcançar novamente ligação com o 21º C.A, que, aliás, estava
reforçando com 100 homens dos patriotas de Alegrete, e ao mesmo tempo esperava
atingir a esquerda rebelde. A 14, estacionei no passo do Calleira, onde dei um
descaso ao meio-dia e na manhã seguinte, abalei-me daí indo ficar na madrugada
de 16, em Antero Pedroso, tendo marchado todo o dia 15 até às 2 horas daquele
dia. Em marcha, recebi de V. Excia, a missão de obstar a que os rebeldes, que
segundo informava V. Excia haviam dividido a sua coluna em duas e que uma delas
se dirigia para São Lourenço, fizessem junção, devendo o meu destacamento,
operar na serra do Canguçú. Fiel a essa missão, adiantei a marcha vindo
estacionar no passo dos Moirões. Sobre o arroio Camargo e daí multipliquei os
meus reconhecimentos e descobertas para precisar com exatidão a coluna rebelde.
Informado que no passo da Barca, os rebeldes haviam novamente passado para a
margem norte do Camaquã e que procuravam a direção de Lavras, recebi de V.
Excia, a missão de me aproximar dessa vila, passado pelo Velhaco, enquanto o
Ten. Cel. Esteves atravessaria o Camaquã, no passo das carretas na margem
esquerda.
No dia 22 de Dezembro
tendo feito marchas forçadas, atingi o passo de São Domingos, no alto do
Camaquã e dai procurando ligação com Vossa Excia. recebi a missão de ir ao encontro
de Zeca Netto, que abatido em São Sepé, pelo destacamento Esteves, marchava
Santa Bárbara acima, procurando o vale Camaquã. No dia 25, deixei pela manhã,
São Domingos, indo à tarde estacionar no Seival, onde fiz junção com o
destacamento de Coronel Hipólito Ribeiro, que passado nos Enforcados, convergiu
também para o Seival. A madrugada seguinte lancei um reconhecimento na direção
das pontas de Santa Bárbara que assinalou os rebeldes, marchando pelo vale do arroio acima, em direção ao
Seival, pressentindo os nossos precipitadamente tomaram a direita deixando
completamente a direção em que vinham, tendo combinado com o Coronel Hipólito,
a nossa acção na perseguição que íamos empreender, marchou ele à retaguarda dos
rebeldes enquanto o meu destacamento flanqueando-os procurava ataca-los pela
esquerda. No dia 26, à tarde, atingi a fazenda do Cerro Formoso, de ode eles
saíram precipitadamente com a aproximação de nossas forças. No dia seguinte
pelas 14:00 horas, nas minas de Vacahy alcançou-os e os obrigou a mudarem de
rumo, tomando agora a direção de Tarumã tendo se atrasado o destacamento
Hipólito, passei para a retaguarda inimiga, que ao chegar à Tarumã foi retirada
pelos nossos tendo sido obrigados a atravessar a linha férrea com o tempo
somente de cortarem os fios telegráficos, sem produzirem outros danos. Levados
sempre atropelados pelo meu destacamento, os rebeldes atravessam o Santa Maria,
no passo do Vieira, onde não tiroteados, tomaram o rumo certo da fronteira
Uruguaia.
Marchando sempre
entre Santa Maria e o Ibicuí da Armada, passa tangenciando D. Pedrito, e
prosseguem a vertiginosa carreira, onde infletem em direção à Serrilhada,
procurando a balsa de São Luiz onde segundo informações, iriam pernoitar no
país vizinho. Ao chegar a Três Vendas, marchava já a minha esquerda, a 2 léguas
de distância o destacamento do Coronel Hypólito, que tomava a retaguarda do
inimigo e os leva de encontro ao 21º C.A, do meu destacamento, que partira da
região de Lavra onde então se achava com a intenção de ataca-los pela frente,
assim acossados transpõe a fronteira e Serrilhada, deixando 3 metralhadoras
pesadas e cerca de 50 fuzis abandonados no campo, tendo o destacamento do
coronel Hypólito, apanhado esse material.
Alimentando somente
com o tradicional churrasco e com o mate amargo a despeito de 10 a 12 léguas
percorridas em um dia, exposto à chuva ou às ardências do sol causticante, no
fim da marcha eram sempre os mesmos homens: resignados e alegres.
Não lhes faltem o
cavalo, seu companheiro de luta, tudo mais é o de menos importância. A bravura,
o desprendimento pela ou é inconsciente ou é o resultado de qualidades morais
que herdadas dos antepassados, afloram nos momentos de grandes crises. Essas
qualidades são bastante conhecidas para que sobre elas ainda me tenha. N nosso
uniforme notei a impropriedade do capote para o serviço de campanha, não só
pelo formato como pela qualidade do pano. Melhor me parece que o poncho
resolveria definitivamente o assunto. Ele é o abrigo que mais nos convém, não
só porque abriga o homem como resguarda o arreiamento que é por sua vez a cama
do soldado. Não tenhamos ilusões nesses assuntos. Num país sem vias de
comunicação e de população de densidade muito fraca, faltam os meios de
obtenção de recursos precisos às mil necessidades de uma campanha. Carroças de
duas rodas muito leves, com dispositivos para serem quarteadas a cargueiros
para o transporte de material e munição, são os meios que notei que mais se
adaptam a nossa companhia. Os nossos arreiamentos precisam de amplificações que
os tornem mais práticos, com diminuição de seu custo. Mais uma vez observei que
os nossos pequenos cavalos são excelentes animais para as nossas necessidades
já pelas suas resistências e rusticidade. A altura mínima deveria ser de 1,43 m
e não a de 1,45 m, pois aquela é a comum no Rio Grande. Fosse ela adaptada
poder-se-ia aproveitar os nossos excelentes animais como cavalo de guerra e
evitaria que o criador com a ganância de vender bem o produto procurasse com
cruzamentos irracionais dar-lhes um maior prejuízo das qualidades de
resistência e sobriedade.
Terminando Sr.
General, cumpre-me agradecer a V. Excia a prova de confiança dando-me a
comandar o destacamento ora dissolvido.
LUIZ CARLOS DE MORAES – Major.
DESTACAMENTO MAJOR MORAES.
Sr. Comandante.
Porto. Comunico-vos que o Esquadrão de meu comando, atualmente fazendo parte da
coluna que comandas. Marchava com forças auxiliares sob a direção do senhor Dr.
Osvaldo Aranha, acampando na tarde de 24 do mês próximo finde, duas léguas a
quem do passo do Seival. Momentos após, recebíamos comunicação enviada pelo
senhor Major Laurindo Ramos, que fazia a vanguarda de ter travado combate com
os rebeldes, no passo do Seival, e em vista disso, foram destacados para a frente os pelotões
sob o comando do 2º Tem. Theofilo André dos Santos e Julio Figueira , os quais
às 23 horas, mais ou menos, fizeram junção com a força Major Laurindo, e
pernoitaram no referido passo. Esta força, às 5 horas do seguinte, perseguia a
marcha quando foi atacada pelo inimigo fortemente entrincheirado em cerca de
pedras e morros propriamente escolhidos para a luta; os pelotões acima, tomaram
disposições para o combate, embora tivesse seus comandos notado ser o terreno
muito desfavorável à nossa força. As cargas levadas a efeito pea auxiliar,
obrigaram esses pelotões a um avanço por uma zona varrida pelo fogo de
metralhadoras inimigas, tanto é que os mesmos pelotões tiveram 13 baixas entre
mortos e feridos. 1 hora depois de iniciado o combate cheguei ao local com os
pelotões do comando dos 1º Tenentes Martim Cavalcante e 2º Ten. Luiz Gomes da
Silva e mais o pelotão de comando tendo imediatamente empenhando estes
pelotões, pois a violência do fogo inimigo exigia o emprego de maior número de
homens possível. Depois de 5 horas de intensa fuzilaria começou a faltar
munições o que nos obrigou a uma retirada. Os Tenentes Theófilo e Júlio são
dignos de louvores especiais pela maneira brilhante com que souberam honrar o
nome da Brigada Militar. Estes excelentes oficiais resistiram heroicamente e
sem temor às cargas inimigas os quais procuraram envolve-los por diversas
vezes. Aos 1º Tenentes Martim Cavalcante e 2º dito Luiz Gomes da Silva, meus
melhores agradecimentos pela maneira correta que se houveram, o primeiro
oficial valoroso e experimentado e combates sustentados pelo Regimento nas
últimas edições e o último pela bravura, calma e sangue frio com que soube
dirigir seu pelotão e mais ainda, os excelentes serviços prestados como
enfermeiro, fazendo curativo em quase todos os nossos feridos. Os 1º Sargentos
ALFREDO LUIZ TEIXEIRA, 2º dito Augusto Soares de campos, Odonelson Edison de Figueiredo,
THOMAS DE CARVALHO OZÓRIO e 3º dito EURIDES SIQUEIRA DE BARCELOS, são dignos
das melhores referências pela bravura demonstrada durante o combate e
finalmente os demais praças souberam obedecer e lutar com a bravura que
caracteriza o soldado Riograndense. Merece louvores o cabo enfermeiro Olimpio
de Vargas Lima, pela maneira digna com que desempenhou suas funções. Foram
feridos, gravemente o 2º Ten. Júlio Figueira e levemente o dito Theófilo André
dos Santos. Do pelotão Ten. Theófilo, foram feridos levemente os 2º Sgt.
Augusto Soares de Campo, Soldados Anísio Silveira, Manoel Augusto Bandeira e Olarim
Carlos de Cruz; gravemente o Cabo JoséMaria de Almeida e o Soldado Nicanor
Rodrigues, os quais faleceram em consequência dos ferimentos recebidos e mortos
os Soldados Genovêncio Rodrigues e Juvelino José Borges. Do pelotão Ten.
Figueira foram feridos levemente os Soldados Pedro de Oliveira Machado e
Salvador Pereira dos Santos e morto o Soldado Maximiano Soares. Do pelotão Ten.
Cavalcante, foi ferido levemente os Soldados Amadeu Peres de Freitas. Do
pelotão Ten. Luiz, foi ferido grave, o Soldado Manoel Soares da Costa e do
Pelotão de Comando foi ferido levemente o 1º Sgt. Alfredo Luiz Teixeira e morto
o Soldado Feliciano Lemos de Araújo.
Acampamento no passo
dos Moirões.
20 de Dezembro de
1.926
(assinado) Eugênio
Henrique Krum. Capitão.
Confere com o
original.
1º Ten. Assistente.
Luiz Carlos de Moraes
Nasceu dia 9 de dezembro de 1876, em Taquari/RS. Filho de Luís Paulino de Moraes e de Umbelina Ribeiro de Moraes. Foi casado, conforme notícias da época.
Cursou a Escola Preparatória e Tática de Rio Pardo/RS. Fez carreira militar, foi Alferes (1901) e chegou a Coronel Reformado (1944).
Na Província de Santa Catarina, foi Interventor Federal interino, de 15 de março a 18 de abril de 1931. Substituiu o Interventor Ptolomeu de Assis Brasil e a este entregou a administração.
No ano de 1933, partiu para Alegrete/RS, com a finalidade de assumir o Comando do Regimento de Cavalaria do município.
Maurício Castro.
Digitalização,
pesquisa e adaptação.



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